CATACUMBA - ANJOS E SANTOS |
Em alguns ramos do cristianismo, Veneração (do latim veneratio, do grego δουλια, "douleuo" ou "dulia", que significa "honrar") ou Veneração dos santos descreve uma especial devoção aos santos, que são considerados modelos de vida cristã que gozam no Céu da vida eterna, podendo interceder pelos fiéis, sendo a veneração uma forma de prestar-lhes respeito. O Culto Divino está devidamente reservado apenas para Deus (latria) e nunca para o santos. Embora o termo "veneração" ou "culto" seja frequentemente utilizado, verdadeiramente significa apenas prestar honra ou respeito (Dulia) aos santos. Veneração não deve ser confundida com idolatria.
A Veneração é demonstrada externamente pela reverência a ícones de santos e relíquias, pois as imagens são consideradas como "fotografias de nossos parentes, servindo para nos lembrarmos dos santos homens do passado" [1]. E "aquele que se prostra diante do ícone, prostra-se diante da pessoa (a hipóstase) daquele que na figuração é representado"[2]. Exemplos de confecção de imagens e veneração podem ser encontrados na Bíblia em Ex 25,17-22; Nm 21,8-9; 1 Cr 28, 18-19; e etc. É praticado pela Igreja Católica, Ortodoxa, Nestoriana, Não-calcedonianas e alguns grupos da Comunhão Anglicana e Luterana.[3]
Registros das comunidades cristãs primitivas indicam que estes representavam Jesus com imagens ou iconografias, como um Bom Pastor, e posteriormente, foram descobertas esculturas do Cordeiro Pascal, do Ictus ("Peixe") e outros ícones representando a vida de Cristo. Desde o século II os cristãos preservavam relíquias de mártires[4], oravam pelos mortos e acreditavam na intercessão dos santos[5][6], essas práticas eram conhecidas por alguns antigos grupos judeus, e especula-se que o cristianismo pode ter tomado a sua prática similar. O Papa São Gregório Magno no século VI insistiu no caráter didático das pinturas nas igrejas, para evangelizar os analfabetos[7]. Posteriormente o Segundo Concílio de Niceia, realizado em 787, declarou a legitimidade de utilizar imagens. Em 1987, por ocasião do XII centenário do Segundo Concílio de Niceia, o Patriarca de Constantinopla Demétrio I[8] e o Papa João Paulo II reafirmaram como legítima esta doutrina.
Veneração e Adoração
O diácono e dr. Mark Miravelle da Universidade Franciscana de Steubenville, falou sobre veneração e adoração:
Adoração, que é conhecido como latria clássica em teologia, é o culto e a homenagem que é justamente oferecida somente a Deus. É o reconhecimento de sua excelência e perfeição divina. É a adoração do Criador que só Deus merece. Veneração, conhecido como dulia clássica em teologia, é a honra, devido à excelência de uma pessoa. Podemos ver um exemplo de veneração geral em eventos, como a atribuição de bolsas de excelência acadêmica na escola, ou a atribuição de medalhas olímpicas para a excelência no esporte. Não há nada contrário à adoração de Deus, quando oferecemos a devida honra e reconhecimento de que as pessoas merecem baseada na realização de sua excelência. A devoção de uma pessoa aos santos não acaba com os santos em si, mas sim, em última análise, chega a Deus através dos santos. Este é um elemento importante para a adequada e autêntica compreensão da devoção aos santos. Prestar honra a um santo em união amorosa com Deus é também homenagear o objeto de sua união amorosa: o próprio Deus, pois «quem honra seu irmão, também honra a Deus (Mateus 25, 40)»[9]
Sobre a intercessão dos santos
"E o Senhor disse-me: ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de mim, meu coração não se voltaria para esse povo; tira-os da minha face e retirem-se" (Jer 15, 1). No tempo de Jeremias, Moisés e Samuel estavam mortos, mas sua possível intercessão é confirmada pelo próprio Deus: "ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de mim...", ou seja, eles poderiam se colocar diante de Deus, intercedendo e pedindo clemência para aquele povo.
"Então tomando-lhe a palavra, disse-lhe Onias: "Eis o amigo de seus irmãos, aquele que reza muito pelo povo e pela cidade santa, Jeremias, o profeta de Deus." (II Macabeus 15,14). Jeremias já estava morto nesta época, e Onias relata que ele está intercedendo e orando pela cidade de Jerusalém.
Os católicos, ortodoxos e anglicanos acreditam que Maria, os Anjos e os Santos são seres espirituais que oram no Céu pelos pedidos e súplicas dos homens, intercedendo junto de Deus, é o dogma da comunhão dos santos. Os santos conhecem as preces a eles dirigidas por dom de Deus, de quem vem "todo dom melhor e todo dom perfeito" (Tg 1, 17). A passagem mais significativa é Apocalipse 5, 8, em que São João diz que Deus recebe as orações dos santos. Outras passagens bíblicas dizem que os "santos são como os anjos de Deus no céu" (Mateus 22, 30). Zacarias diz: "que o anjo intercedeu por Jerusalém ao Senhor dos exércitos" (Zc 1, 12 -13). O próprio Jesus fez uma narrativa de uma intercessão, em que uma pessoa que se encontrava no inferno implorava a Abraão que mandasse alguém para lhe refrescar a língua com água (Lucas, 16, 19-31).
Os referidos grupos religiosos também acreditam que Cristo seria o único mediador de redenção e salvação perante Deus, conforme relatado em 1 Timóteo 2,5-7, quando São Paulo diz "Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem que se entregou como resgate por todos. Tal é o fato atestado em seu tempo", como Paulo escreve "homem que se entregou como resgate por todos" ou seja para a salvação de todos, afirmando que os santos poderiam interceder em outras questões, mais cabe unicamente a Cristo a mediação de salvação, também sustentam que podem haver mediadores que dependem de Jesus, como Maria, considerada medianeira
Na Bíblia existem alguns exemplos em que Deus mandou fazer imagens para o uso religioso:
"Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra." (Ex 20,4).
Os referidos grupos religiosos acreditam esta passagem teria proibido apenas a representação simbólica de Deus sob a forma de um astro e de um pássaro (que são o "que há em cima nos céus"), de um homem, de uma planta ou animal ("em baixo na terra" - como ocorreria com o Bezerro de Ouro), ou de um animal aquático ("nas águas") (Dt 4,16-18).
"Farás também dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório. Farás um querubim na extremidade de uma parte, e outro querubim na extremidade de outra parte; de uma só peça com o propiciatório fareis os querubins nas duas extremidades dele." (Ex 25,18-19)
"E disse o Senhor a Moisés: Faze uma serpente ardente e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo mordido quem olhar para ela. E Moisés fez uma serpente de metal e pô-la sobre uma haste; e era que, mordendo alguma serpente a alguém, olhava para a serpente de metal e ficava vivo." (Nm 21,8-9)
Estes grupos religiosos utilizam objetos tais como cruzes, ícones, incenso, velas e etc. Eles acreditam que a proibição de fazer imagens de Deus no mandamento do Antigo Testamento, devia-se ao fato de que Deus era invisível e retratá-lo seria realmente errado, mas que a encarnação de Deus em seu Filho, Jesus Cristo, "O Verbo se fez carne" (Jo 1,14), assim o Deus invisível se tornou visível em Cristo (Colossenses 1,15) e, portanto é admissível que se retrate Jesus. A Igreja ortodoxa ensina que a encarnação de Jesus torna obrigatório a confeção e veneração de seus ícones, a fim de preservar a verdade da Encarnação, pois não venerá-los implicaria negar que Jesus foi totalmente Deus, e negar que Ele tinha um corpo físico real. No entanto, os ortodoxos não utilizam estátuas, mas apenas pinturas.[11]
Sobre a veneração
Exemplos de veneração são demonstradas na Bíblia:
"Abraão levantou os olhos e viu três homens de pé diante dele. Levantou-se no mesmo instante da entrada de sua tenda, veio-lhes ao encontro e prostrou-se por terra" (Gn 18,2)
"Moisés saiu ao encontro de seu sogro, prostrou-se e beijou-o. Informaram-se mutuamente sobre a sua saúde e entraram na tenda" (Ex 18,7)
"Josué rasgou suas vestes e prostrou-se com a face por terra até a tarde diante da arca do Senhor, tanto ele como os anciãos de Israel, e cobriram de pó as suas cabeças." (Josué 7, 6)"
Na passagens acima, Abraão e Moisés põem-se de joelhos como forma de respeito e veneração por outros homens ou seres espirituais (anjos no caso de Abraão), o ato de súplica não é um ato de adoração, mas de humildade, onde eles reconhecem no outro sua superioridade ou seu poder de atender-lhe um pedido.
Porém a passagem mais significativa é a de Josué, em que ele se prosta diante da arca da aliança, sendo um exemplo explícito de veneração de uma imagem ou objeto. Portanto a própria Bíblia difere a adoração (latria) de veneração (dulia)[12]
Perspetiva protestante
As igrejas que praticam a veneração são comummente condenadas ou criticadas pelas religiões protestantes em geral (pois afirmam que a veneração trata-se de adoração) aos Santos e à Virgem Maria. Logo, para os integrantes dessas religiões, o culto de veneração seria considerada como idolatria. Em alguns casos esta acusação provoca atos de intolerância e violência por parte de protestantes[15], como a destruição de esculturas na Holanda[16] e o "Chute na Santa".[17]
Mas, sobre esta questão, os grupos religiosos praticantes da veneração, além de salientar a diferença entre a adoração e a veneração, negam ter qualquer relação com a idolatria, e sustentam que a própria Bíblia oferece exemplos de intercessão (Jer 15, 1), veneração (Josué 7, 6) e confeção de imagens (Ex 25,18-19), também argumentam que idolatria é o culto de adoração que se presta a uma criatura, ou ideias, prestando a ele o culto que só se deve a Deus.
A idolatria, para os cristãos, está inclusa nos chamados pecados de superstição. O Concílio de Trento afirmou que "São ímpios os que negam que se devam invocar os santos, que gozam já da eterna felicidade no céu. Os que afirmam que eles não oram pelos homens, os que declaram que este pedido por cada um de nós é idolatria, repugna a palavra de Deus e se opõe a honra de Jesus Cristo, o único mediador entre Deus e os homens". [18]
Em síntese :
A proibição de confeccionar imagens contida no Antigo Testamento era devida a circunstâncias contingentes da história do povo de Deus; cercado de nações idólatras, Israel tendia ao culto pagão das imagens e a concepções de índole mágica que as imagens poderiam fomentar. De resto, já mesmo no Antigo Testamento o próprio Deus prescreveu a confecção de imagens como querubins, serpente de bronze, leões do palácio de Salomão, etc.
O mistério da Encarnação do Filho de Deus mostrou aos homens uma face visível de Deus, que, além do mais, se quis servir de numerosos elementos sensíveis (imagens, palavras, cenas históricas ...) para comunicar a Boa-Nova. Os cristãos foram então compreendendo que, segundo a pedagogia divina, deveriam passar da contemplação do visível ao invisível. As imagens, principalmente os que reproduziam personagens e cenas da história sagrada, tornaram-se a Bíblia dos iletrados ou analfabetos.
A controvérsia (conoclasta, inspirada por correntes judaizantes e heréticas nos séculos VIII e IX, terminou com a reafirmação do culto das Imagens no Concílio de Nicéia II (787). Tal culto é dito "de veneração" e é válido na medida em que as imagens representam os santos; não se confunde com adoração.
Os Reformadores protestantes rejeitaram as imagens por causa dos abusos do fim da Idade Média; Lutero, porém, se mostrou assaz liberal e tal propósito. Ultimamente entre os luteranos e atitude inococlasta tem sido submetida a revisão.
As autoridades eclesiásticas católicas tem promulgado normas para se evitarem abusos e erros teológicos na confecção e no culto das imagens.
§1159 AS SANTAS IMAGENS
A imagem sacra, o ícone litúrgico, representa principalmente Cristo. Ela não pode representar o Deus invisível e incompreensível; é a encarnação do Filho de Deus que inaugurou uma nova "economia" das imagens:
A imagem sacra, o ícone litúrgico, representa principalmente Cristo. Ela não pode representar o Deus invisível e incompreensível; é a encarnação do Filho de Deus que inaugurou uma nova "economia" das imagens:
Antigamente Deus, que não tem nem corpo nem aparência, não podia em absoluto ser representado por uma imagem. Mas agora que se mostrou na carne e viveu com os homens posso fazer uma imagem daquilo que vi de Deus. (...) Com o rosto descoberto, contemplamos a glória do Senhor.
§1160 A iconografia cristã transcreve pela imagem a mensagem evangélica que a Sagrada Escritura transmite pela palavra. Imagem e palavra iluminam-se mutuamente:
Para proferir sucintamente nossa profissão de fé, conservamos todas as tradições da Igreja, escritas ou não-escritas, que nos têm sido transmitidas sem alteração. Uma delas é a representação pictórica das imagens, que concorda com a pregação da história evangélica, crendo que, de verdade e não na aparência, o Verbo de Deus se fez homem, o que é também útil e proveitoso, pois as coisas que se iluminam mutuamente têm sem dúvida um significado recíproco.
§1161 Todos os sinais da celebração litúrgica são relativos a Cristo: são-no também as imagens sacras da santa mãe de Deus e dos santos. Significam o Cristo que é glorificado neles. Manifestam "a nuvem de testemunhas" (Hb 12,1) que continuam a participar da salvação do mundo e às quais estamos unidos, sobretudo na celebração sacramental. Por meio de seus ícones, revela-se à nossa fé o homem criado "à imagem de Deus" e transfigurado "à sua semelhança", assim como os anjos, também recapitulados em Cristo:
Na trilha da doutrina divinamente inspirada de nossos santos Padres e da tradição da Igreja católica, que sabemos ser a tradição do Espírito Santo que habita nela, definimos com toda certeza e acerto que as veneráveis e santas imagens, bem como as representações da cruz preciosa e vivificante, sejam elas pintadas, de mosaico ou de qualquer outra matéria apropriada, devem ser colocadas nas santas igrejas de Deus, sobre os utensílios e as vestes sacras, sobre paredes e em quadros, nas casas e nos caminhos, tanto a imagem de Nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo, como a de Nossa Senhora, a puríssima e santíssima mãe de Deus, dos santos anjos, de todos os santos e dos justos.
§1162 "A beleza e a cor das imagens estimulam minha oração. É uma festa para os meus olhos, tanto quanto o espetáculo do campo estimula meu coração a dar glória a Deus." A contemplação dos ícones santos, associada à meditação da Palavra de Deus e ao canto dos hinos litúrgicos, entra na harmonia dos sinais da celebração para que o mistério celebrado se grave na memória do coração e se exprima em seguida na vida nova dos fiéis.
Referências:
Referências:
- Declaração de padre Raimundo Ghizoni, na Catedral da Cidade de Tubarão. Santa Catarina Brasil. Fevereiro de 2009.
- J. D. Mansi, Sacrorum Conciliorum nova et amplissima colectio. Pág.: 377.
- Sétimo Plenário da Comissão Mista de luterano-ortodoxos, em Julho de 1993 em Helsinque, reafirma a doutrina sobre a veneração de imagens.
- Hippolyte Delehaye SJ, Les origines du culte des martyrs 2nd ed. (Brussels) 1933:50ff.
- Gerald O' Collins and Mario Farrugia, Catholicism: the story of Catholic Christianity (Oxford: Oxford University Press, 2003) p. 36; George Cross, "The Differentiation of the Roman and Greek Catholic Views of the Future Life", in The Biblical World (1912) p. 106; cf. Pastor I, iii. 7, also Ambrose, De Excessu fratris Satyri 80
- George Cross, "The Differentiation of the Roman and Greek Catholic Views of the Future Life", in The Biblical World (1912) p. 106
- a b Carta Apostólica Duodecimum Saeculum, de João Paulo II
- Epi te 1200 è epetèio apo tes syncleoseos tes en Nikai Aghias z'Oikomenikes Synodoy (787-1987), Fanar, 14 de setembro de 1987.
- Mark Miravalle, S.T.D, What is Devotion to Mary?
- Notas explicativas no Décalogo da Tradução da Bíblia Sagrada revisada por Frei José Pedreira de Castro. O.F.M. e pela equipe auxiliar da "Editora Ave-Maria". ISBN 85-276-0549-X.
- Qual é a diferença entre a Igreja Católica e a Ortodoxa?. Mundo Estranho. Página visitada em 2010-02-08.
- Outros exemplos incluem Gn 23,12; Gn 33,3; Ex 18,7; 1Sm 25,41; 2Sm 9,6; 14,4; 2Rs 1,13.
- Cave, Primitive Christianity: or the Religion of the Ancient Christians in the First Ages of the Gospel. 1840, revised edition by H. Cary. Oxford, London, pp. 84-85).
- Roger T. O'Callaghan, "Recent Excavations underneath the Vatican Crypts", na "The Biblical Archaeologist 12" (1949:1-23) e "Vatican Excavations and the Tomb of Peter", "The Biblical Archaeologist 16.4" (Dezembro de 1953:70-87).
- Van der Horst, Han (2000). Nederland, de vaderlandse geschiedenis van de prehistorie tot nu (in Dutch) (3rd ed.). Bert Bakker. pp. 133. ISBN 90-351-2722-6.
- Spaans, J. "Catholicism and Resistance to the Reformation in the Northern Netherlands". In: Benedict, Ph.
- Epstein, Jack (1995-11-24). "Kicking of icon outrages Brazil Catholics". The Dallas Morning News. Visitado em 6 de janeiro de 2009.
- Palestra virtual pela Editora Cléofas de Dr. Felipe Aquino da Canção Nova sobre o Concílio de Trento.
- Catecismo da Igreja Catolica 1159-1162
Ver Mais:
18 - A Resposta Católica: Intercessão dos Santos
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